Perante a nossa grande mágoa, chorar é um
comportamento natural que exprime os sentimentos de desespero, revolta e
tristeza. A contenção do choro muitas vezes depende da cultura ou mesmo da
educação que se tenha tido.
Chorar
é mostrarmo-nos de uma maneira mais expressiva. Não reprimir o choro é ter
oportunidade de criar um elo com a nossa própria emoção. Através dessa
expressão sentida conseguimos conhecermo-nos melhor, uma vez que estamos a
extravasar os nossos sentimentos intensamente. Assim suportaremos melhor a
angústia que nos quer destruir.
É
humana esta necessidade imensa de sentir a dor através do choro. Libertarmo-nos
da opressão que sentimos e, quando esse transbordar de lágrimas cessa, chegamos
a pensar: “Chega de chorar. Vou encarar a
Vida e fazer o meu melhor em memória do meu filho”.
É
depois de desabafar através das lágrimas, por vezes, há muito contidas, que se
encontra alívio e clareza de espírito para prosseguir e enfrentar o dia a dia,
ou seja, o futuro. Fica-se mais sintonizado com as emoções. Há uma libertação
saudável do interior para o exterior.
Muitos
pais reprimem as suas lágrimas por vergonha de se mostrarem como homens fracos.
Nunca conseguiram chorar. Enquanto o não fizerem estão sujeitos a comportamentos
compulsivos, medos e manias que acabam por limitar a sua vida fazendo também
sofrer os seus familiares.
A
nossa dor não passa com o tempo. O tempo só atenua a dor, mas não a cura. A dor
só acaba por ir purificando o sofrimento, dura realidade que nos magoa. Apenas
e só a consciência do sofrimento é capaz de transformá-lo em serenidade. É
preciso aprender a saudade para não acumularmos mais confusão no nosso interior.
O
nosso autoconhecimento surge quando passamos a aceitar a nossa fragilidade
diante da dor da perda e naturalmente viver com a nossa sabedoria intuitiva de
defesa. A dor, como forma de alimento, por muito que me custe dizê-lo, por
receio de não ser compreendida, é inútil. É preciso sim unir o pensamento ao
sentimento. Saber conviver com o nosso filho perdido, em paz.
Como
poderemos fazê-lo? Cada pai ou mãe são diferentes e sendo assim reagem das
maneiras mais diversas. Todos eles, no entanto, sabem que têm de prosseguir por
si, pelos outros filhos, pelo trabalho que lhes dá a subsistência, pelos seus
próprios pais mais idosos e cansados, em fim, um rol de circunstâncias que
fazem desesperar mas também incutir a força de reagir.
Que
a opressão que muitas vezes carregamos seja aliviada pelas lágrimas. Depois...
é bom olhar o céu com todas as suas nuances e acreditar sempre no dia seguinte.
Um renascer de esperança e coragem para nos podermos abrir ao amor com todos
aqueles que partilham a nossa vida.
O
luto por um filho é um processo muito doloroso e que foge ao nosso controle.
Não há regras nem certezas. Podemos pensar que estamos bem para encarar o
quotidiano mas, inesperadamente, num momento, num olhar, num gesto, num vulto,
num sorriso todo o drama surge tão nítido que caímos outra vez no abismo da
perda. Acreditem, porém, que cada vez que se erguerem se vão sentir mais
corajosos e mais inteiros.
Aida Nuno