É da semente do amor que floresce a
saudade...
É da colheita do fruto que
surge algo que chamamos de laços.
E é
quando a vida os desata que chamamos de perdas.
Perdas irreparáveis.
Perdas que não tem nome.
Dor que dói só de pensar.
Dor que um dia ouvi ser equiparada a um parto
inverso.
Devolver o filho. Sem ao menos
nos perguntar se damos essa permissão.
Lágrima que não sai. Choro que nos falta o
ar.
Medo de viver.
Medo que o medo nunca saia de nosso
coração.
Medo do medo.
Vontade louca de voltar segundos, ou talvez milésimos
dele, para gritarmos para nosso filho: saia daí! ou desvie o carro, ou não
ande por essa rua.
Mas nada é
possível.
O chão é roubado, o coração
parece parar, e borboletas voam angustiadas pela nossa alma.
O sonho de que tudo seja mentira. Que a notícia
recebida foi engano. Que o nome dito era homônimo.
A mentira se faz verdade.
O nome querido pensado com tanto carinho antes mesmo do
nascimento, é trocado por alguém que já o chama de “corpo”.
Seu leito se torna forrado de flores, flores estas que
sonhávamos para sua formatura ou casamento. E agora o acompanha para emoldurar
seu semblante que parece estar em um sono profundo.
Olhos que não abrem mais. Mãos que não nos afagarão
mais. Voz que não nos dirá que está com fome ou que quer aquele doce que só você
sabia fazer.
O momento de dor
intensifica. A cena nos tortura, ao invés de nos acalmar. Ele ainda está aqui,
mesmo que já não mais em vida.
Mas é
hora do último adeus.
Devolver o filho
tão amado e esperado.
Devolver o que
não quer ser devolvido. E uma multidão de abraços e consolos nos afaga,tentando
nos distrair desse momento que não tem como reverter.
E uma procissão de familiares, amigos e curiosos,
acompanham sua partida.
A cabeça meio
que atormentada nos impulsiona a dar o último beijo, o último afago, e vem a
frase: Vá com Deus, filho amado!
O
quarto do filho se esvazia de tudo.
As
coisas ficam; as roupas fora do armário, o computador ainda aberto, anotações e
sonhos ainda por realizarem.
O armário
insiste em deixar o cheiro do ser amado, tentando nos convencer de que ele saiu
e logo volta.
As gavetas nos revelam
tantos pertences, tantos bilhetes e tantas lembranças...
E a foto do porta retrato , que antes enfeitava o
quarto, se transforma em altar sagrado da triste lembrança de que tudo realmente
aconteceu.
Mas alguma coisa surge em
nosso interior. Um vazio que nos invade. E a sensação de estarmos anestesiados
começa a tomar ciência de nossa realidade.
E esse estado de torpor, tenha certeza, são lenitivos
de Jesus, tentando acalmar os corações dilacerados, mas
amparados.
Ele nunca desampara um
filho, ainda mais nessa hora; hora essa que Jesus também fez passar sua Mãe,
quando O retiraram da cruz e O colocaram em seus braços.
Ele sabe de tudo. Ele sabe o que aconteceu e o que irá
acontecer.
Ah, se pudéssemos ver o trabalho de Deus nesse
momento...
Se pudéssemos ver Deus
tomando em Seu colo nosso filho, antes mesmo dele sentir qualquer dor na hora de
sua partida.
Se enxergássemos a legião
de anjos guardiões o recebendo,
compreenderíamos que o momento da perda, já havia
acontecido perante os olhos de Deus.
Por isso tenhamos fé.
Saibamos que o propósito de Deus por mais injusto que
nos pareça, tem um motivo. E sempre embasado na lei do amor.
Ser forte não é não chorar; e chorar não é uma
demonstração de pouca fé.
Somos
humanos.
Quando Jesus dizia “Vinde a
mim os aflitos que Eu vos aliviarei”, Ele já sabia que as dores da alma tem seu
tempo de manifestar. E Deus nos respeita, dando-nos o momento do
luto.
Há tempo para tudo na vida, até
para chorar. Viva esse tempo. Mas com a certeza de que ele passará, e outro
tempo chegará cheio de respeito, para acalmar o coração.
Fará com que a saudade não seja mais
dolorida.
Fará que os momentos felizes
continuem compartilhados nos almoços de domingo e nas festas de
aniversário.
Deus trará novamente a
vontade de viver. Vontade de viver em homenagem à seu filho.
Viaje por ele, faça graça por ele, retome a vida por
ele!
E essa alegria contagiará os seus
corações, tornando-os eternamente em uma comunhão de amor e
ternura.
Deus não machuca ninguém. Não
desampara 99 ovelhas para socorrer uma. Ele com sua onipresença também estará
com as outras ovelhas. Mas quero que hoje, você se sinta como Sua ovelha
predileta. Sinta-se em Seu colo, recebendo Dele toda ternura e consolo de
Pai.
Seu filho já está de volta à Sua
casa.
E a certeza de que ele foi apenas
à frente, nos faz crer que ainda fazemos parte deste jogo da vida, até Deus
achar que atingimos nosso objetivo.
Que
Deus ampare todas as mães e pais que hoje choram ou irão chorar a ausência de um
filho, dando a eles a certeza da vida eterna e do tão esperado
reencontro.
Deus os
abençoe
Walter
Hassin
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