Quando sofremos uma perda, faz uma diferença enorme se
consideramos a morte um ponto final que encerra a frase da vida, ou se
acreditamos que a morte é apenas uma vírgula, após a qual a vida se eleva a um significado
maior. Nesta hora, importa profundamente se achamos que o nosso ente querido
foi totalmente apagado do livro da vida, ou se acreditamos que ele é tão
imortal quanto o próprio Autor da Vida.
O que é imortalidade? Depende para
quem. Para alguns de nós, imortalidade significa que a pessoa sobrevive através
da família. A presença continua. Os conselhos são ainda ouvidos, as alegrias
ainda são compartilhadas, o carinho ainda é sentido. Viver nos corações dos que
ficaram é não morrer. Mais ainda, existe uma perpetuação de geração em geração. Existe
uma força invisível, porém real.
Ninguém vive em vão, de formas grandes ou
pequenas, nossos finados deixaram sua marca neste mundo. E através desta marca,
alcançaram a imortalidade. Acredito que nossos entes queridos passaram pelo
processo fisiológico que denominamos “morte”. Libertaram-se do seu corpo
mortal, mas eles mesmos estão mais vivos do que nunca.
Se nós, nós que ficamos
para trás, conseguíssemos compreender isto, a dor da separação seria aliviada.
A morte é uma mudança de condição, não de essência. Tiros, enfartes e cânceres
ferem o corpo, mas não destroem a alma. A alma não morre jamais. A própria
racionalidade do universo exige a imortalidade.
O Divino Dramaturgo certamente
não teria escrito um texto sem sentido. Ele não teria preparado toda a paisagem
resplandecente da Terra como cenário para o personagem principal, o ser humano,
para depois lhe permitir somente uma fala curta no palco da vida e, logo em
seguida, fazê-lo sair de cena.
Eu acredito que este mundo é apenas prólogo, e
há muitos outros belos atos à espera do homem no outro mundo. Imagine que você
está parado à beira do mar e você vê um navio partindo. Você fica olhando
enquanto ele vai se afastando e afastando, cada vez mais longe, até que
finalmente parece apenas um ponto no horizonte, lá onde o mar e o céu se
encontram. E você diz: “Pronto, ele se foi”. Foi aonde? Foi a um lugar que sua
vista não alcança, só isso.
Ele continua tão grande, tão bonito e tão
importante como era quando estava perto de você. A dimensão diminuída está em
você, não nele. E naquele exato momento em que você está dizendo “Ele se foi”,
há outros olhos vendo-o aproximar e outras vozes exclamando com júbilo: “Ele
está vindo, está chegando”. Isto é a morte. E isto é a Vida Eterna!
Rabino Henry I Sobel
Rabino Henry I Sobel
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