Há muita falta de respeito pelos sentimentos
alheios. Alguém conta de uma dor que está vivendo e aquele que está a ouvir já
se apressa em lembrar que essa dor não é nada se comparada a dor que ele
enfrenta. Quase uma disputa numa tentativa insana de mostrar quem sofre mais.
Dor não se mede. Dor não se compara. Cada um sabe a dor que vive e que traz no
peito. Por isso, não adianta compartilhar essa dor com aqueles que não têm
sensibilidade. Há aqueles que não são bons ouvintes. Eles querem sempre falar, julgar,
repreender. E não sabem silenciar.
Cada ser humano sente a
sua própria dor e a sente do seu jeito e a seu modo. Digo isso, porque vejo
gente que luta para demonstrar ao outro a intensidade de sua dor e nem sempre
consegue. E nem sempre encontra a receptividade do outro para ouvi-lo. Há os
que até dramatizam a própria dor na esperança de convencer os que estão ao lado
e ganhar deles um pouco de compaixão. A sua dor não precisa de quem a reconheça
ou a aprove para, enfim, tornar-se válida. Ela existe. Ela é sua. E só você
sabe da força dela e dos estragos que ela pode causar.
Se você não encontrar
solidariedade no olhar de quem ouve, cale. Toda e qualquer palavra de sua parte
não trará nenhuma modificação no modo de agir e de responder do outro. Lembre-se
de Jesus no horto das oliveiras, quando se aproximava o momento de sua morte.
Diz o texto bíblico que ele recorreu aos amigos mais próximos pedindo a eles
que lhe fizessem companhia durante aquela noite.
Conta a história da
bíblia que os amigos mais próximos dormiram e não conseguiram fazer vigília com
ele. Os amigos mais próximos deixaram o mestre sozinho enquanto esse suava
sangue, corroído pela dor daquele momento. Portanto, algumas dores, alguns
momentos difíceis, terão que ser enfrentados na mais profunda solidão. Alimente
menos expectativas a respeito da solidariedade daqueles que estão ao seu lado.
Se até Jesus provou o gosto amargo da dor vivida na solidão, por que conosco
deveria ser diferente? Alguns momentos da vida são mesmo assim: entre nós e Deus.
E ninguém mais.
Dalcides Biscalquin
Concordo plenamente com o texto. ninguem intende a nossa dor,somente aqueles que enfrentam a mesma dor.. força em sua batalha diaria um grande abraço apertado..
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