Queridas mães;
Está se aproximando a data mais triste da minha vida, nunca pensei passar por tamanho sofrimento; como mãe só imaginava comemorar os anos de vida que minha filha tinha pela frente, agora tenho que conviver com a data de sua partida.
Mas este Blog não é so para falar de dor, o objetivo é ajudar a outras mães que assim como eu se sentem mutiladas pela perda de seu filho, é conscientizar a sociedade que o sofrimento existe, que a vida não é feita só de momentos felizes e não podemos ficarmos indiferentes ao sofrimento alheio. Leiam o texto abaixo, creio que mudará sua forma de julgar o sofrimento do próximo.
O que dói mais?
Dizer que perdi uma parte de mim, ou explicar que tenho uma dor de tal
maneira forte no meu coração, que me faz sofrer horrores?
Dizer que tenho um espaço vazio em mim que nunca mais vou preencher;
ou sentir-me esmagado pelas recordações que tenho de quem partiu.
O que dói mais?
Sentirmo-nos sozinhos no nosso sofrimento, ou sentirmos que os outros
não estão a sofrer como achamos que deviam de sofrer, e por isso,
sentimo-nos revoltados, e por vezes com alguma raiva.
O que dói mais?
Sentir a angústia de sofrer por um passado que já não volta, ou
sentir ansiedade por não poder realizar mais os projetos que
tínhamos elaborado?
O que dói mais?
A dor dos pais? Dos filhos? Dos cônjuges? ...
A dor que dói mais, para mim mesmo; é a dor que trago comigo, por
isso não vale a pena compará-la com mais nenhuma, porque a minha
dor é a maior de todas, porque é minha!
Por isso não vamos comparar sofrimentos de perda, pois esses
sofrimentos são inerentes à história de vida de cada pessoa, ao
significado que cada um construiu com o outro, aos projetos que tinha,
as caricias que teve, à intensidade com que viveu, pois a medida do
nosso amor é também uma das medida do nosso sofrimento. Se eu
entender que a minha dor é a maior de todas para mim mesmo, e
entender em simultâneo que a dor do outro, é a maior para ele
mesmo, então entenderei que o principal é respeitar a forma como
cada um sofre no silêncio do seu próprio ser. Respeitar os
sentimentos de dor, de angústia, de revolta, por vezes de raiva e
agressividade, outras vezes com surtos de choro e nostalgia, outras
vezes ainda com uma enorme inércia ou com uma recusa da realidade,
mas sempre com uma grande autenticidade na forma como o expressamos.
Por tudo isso, há que entender as diferentes formas de vivenciar,
expressar e interpretar o sofrimento (tanto nosso como dos outros).
Há pessoas que reprimem o choro, mas no entanto choram sozinhas;
há pessoas que são mais fortes que outras, mas no entanto tem
momentos de fragilidade; há pessoas que são torres de marfim, mas
no entanto essas torres um dia caiem; mas mesmo essas pessoas que á
primeira vista não sofrem como a "maioria" das outras
pessoas, mesmo essas, sofrem tanto como essas outras; e sofrem pela
medida do seu sentimento, e sofrem porque os outros não respeitam o
seu sofrimento em silêncio, e sofrem porque não são
compreendidas e aceitas pela maneira autêntica como estão a
sofrer, e sofrem porque não conseguem compreender como esses outros,
que também sofreram e sofrem, não entendem que se possa sofrer de
maneira diferente e sofrem porque além de sofrerem não têm
ninguém para partilhar e entender o seu sofrimento logo, sofrem
sozinhas.
Por isso meus amigos, e no meu entender o importante não é
comparar sofrimentos, é aceitar o nosso próprio sofrimento, é
compreender o sofrimento dos outros, que têm a sua maneira intima de
sofrer, é partilhar as diferentes formas de sofrer para que todos
nós nos apoiemos nesta longa caminhada que se for feita em conjunto
é menos penosa, é menos longa é menos triste....
Seja como for, a caminhada de sofrimento que temos de fazer, iremos
fazê-la; sozinhos ou acompanhados, é já uma opção de cada
um, mas um coisa é certa, todos nós teremos que caminhar nesse
trilho do sofrimento.
Na estrada da minha vida, perdi-te no meu olhar, e foi aí mesmo que
te encontrei.
Blog CAPELO DE LISBOA
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