Bem, para começo de conversa, a felicidade é basicamente o
principal objetivo de todo o ser humano (pelo menos civilizado - se ainda
fôssemos animais irracionais, o objetivo primário, naturalmente, seria
sobreviver, procriar e garantir a manutenção da espécie). Mas não somos
irracionais. E o ser humano, por isso, primariamente, busca ser feliz. E,
durante os muitos séculos de nossa existência, essa felicidade foi buscada de
muitas maneiras diferentes.
A questão é que, hoje, há talvez uma super
valorização da felicidade que causa um problema muito grave. Vemos em séries de
televisão, filmes, revistas e pelas redes sociais, um mundo onde todos são
felizes, o tempo inteiro; onde ser feliz, como bem me disseram uma vez, parece
uma obrigação. Mesmo quem não é, tenta parecer assim no facebook, no
twitter e etc... (com suas raras exceções). O que isso cria? Uma
impressão de que ser feliz o tempo inteiro é normal, de que todos são assim, de
que todos devem ser assim. E o que isso cria num
indíviduo normal, que naturalmente não é feliz o tempo inteiro? Uma simples
pergunta: se eu não sou feliz assim, será que há algo de errado comigo? E o
maior problema é quando essa pergunta se torna uma afirmação: há, de fato, algo
de errado comigo.
Vejamos bem. A tristeza é um sentimento, como
outro qualquer, como o sentimento de estarfeliz
(e não ser feliz). E, como todo o sentimento, ele é irracional (afinal,
sentimentos são emoções) e independe de qualquer fator lógico externo para ocorrer. É claro que
muitas vezes nos sentimos felizes por um motivo evidente (tivemos um filho!
yay!) e nos sentimos tristes por um motivo evidente (perdemos um ente querido,
etc...). Mas em muitos casos não há motivo algum para nenhuma das duas emoções,
elas simplesmente acontecem. E podem acontecer por uma quantidade tão grande de
fatores (que estão até mesmo ligados à alimentação e à química do corpo) que é
simplesmente impossível termos controle sobre elas. E é aí que mora o problema.
Nossa sociedade nos ensina a simplesmente não
aceitar que estejamos
tristes. Como se a tristeza fosse um sentimento que precisa ser eliminado e que
pode ser controlado - e que aqueles que estão tristes são os excluídos. A questão é
que, como com toda emoção, controlá-la não é possível. O que acontece, então, é
que o indivíduo entra em um ciclo vicioso negativo. Se sente triste, não
consegue aceitar, e como não consegue mudar, se sente ainda mais triste e ainda
mais frustrado e, como dito anteriormente, passa achar que é um problema dele,
que há algo de errado com ele, quando, na realidade, o problema está na
sociedade - na mentalidade por ela criada e transmitida.
A tristeza não é algo negativo. E nem deve,
necessariamente, ser visto como oposto a ser
feliz. É completamente natural estar
triste por algum motivo e por
um bom período de tempo até, sem que se deixe de ser feliz. O que a sociedade
precisa é entender que estar
triste é algo natural e, na
realidade, positivo, pois se trata de um processo essencial à mente e ao corpo
para a construção de um indivíduo saudável. Isto é, é necessário
"abraçar" essa tristeza em alguns momentos em vez de tentar
combatê-la e de, inutilmente, tentar transformá-la em felicidade (o que leva ao
ciclo vicioso falado anteriormente). Além disso, é necessário também repensar
um pouco a questão da mídia, que a todo momento coloca o estar feliz o tempo inteiro como algo possível (o que não é) e
normal; excluindo todos aqueles indivíduos que não estejam assim. Isso, assim
como nas questões de padrões estéticos, acaba criando um padrão ilusório e
inatingível, que leva inúmeras pessoas a se sentirem tão excluídas, mas tão
excluídas, que a elas parece nem ser mais possível fazer parte, funcionalmente,
dos ambientes sociais. E é claro que, naturalmente, a criação desse padrão ilusório tem muito a ver com uma sociedade de consumo, mas isso
é assunto para uma próxima postagem.
(Lonardo Schabbach)
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